Esta manhã, enquanto se cruzava comigo na sala, uma barata perguntou-me porque me levantava cedo todos os dias. Esta pergunta, tão profunda, afectou todo o meu dia. Fez-me pensar na realidade. No facto de passar a vida a tentar convencer-me, e aos outros, de que faço muitas coisas, quando todos sabem que nada faço. Esforço-me por parecer importante, por acreditar que se preocupam com a minha opinião ou com o que faço ou digo. Sou como a barata. Um parasita. Vivo dos restos que caem no chão, do calor do frigorífico, nos canos de esgoto. Mas finjo ser um escaravelho. Passo os dias a juntar merda para fazer bolas que depois exibo como trabalhos de grande importância. Quase me consigo convencer que convenço os outros de que sou útil. Até a barata sabe como sou. Afinal, porque raio me levanto eu tão cedo quando nada tenho para fazer? Mas, no fim do dia, depois de quase me chatear com tudo, concluo que é assim a Vida. Tanta coisa, e vai sempre dar ao mesmo. Mexa-me mais, ou menos, o resultado será sempre igual. Previsível. Tal como eu, um pouco de Nada. 0/1000=0. Assim, decidi convidar a barata para dormir comigo no quentinho da cama, não sem antes lhe oferecer um pouco de compota de mirtilho para cear, e convidar para ir curtir para um país com Sol. Já amanhã.
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