O meu cão emigrou. Não conseguia cá emprego. Já nem a pedir nas ruas se safava. Nem mesmo quando cantava e tocava gaita de foles, as pessoas lhe davam algo. E que bem ele toca. Não fosse a minha parca ajuda, e teria de andar a dormir nas ruas, a vasculhar os contentores de lixo e a roubar velhotas e crianças. O novo Estado não dá rendimento mínimo nem as câmaras arranjam casas a cães, mesmo que tenham já trabalhado muito na vida, e feito os respectivos descontos. Chegou a pensar vender droga. Assim, talvez lhe dessem uma casa. Finalmente, ao fim de quase um ano de procura, surgiu uma proposta para fazer stand up comedy no bar de um hotel de duas estrelas no Burundi. O melhor da região. Parece que há por lá muitos ossos para roer. Não gosta muito do ambiente, não se sente seguro, mas é a vida. Espera juntar algum para voltar e poder fazer uma vivenda na terra e criar um negócio próprio. Sonha ser artista. Juntou-se com uma cadela tibetana, refugiada, que ensina yoga noutro hotel, e aguenta melhor a coisa.
Até breve, amigo. És um grande cão. Não me esqueças. Eu não te esqueço.
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